“WALT DISNEY: VISITA SEUS ESTÚDIOS.... HOJE!!! (Parte 1 de 2)”

Dizem que quando Walt Disney morreu, um bando de cientistas congelou seu corpo pra que no futuro (quem sabe) pudesse ser revivido.

 É uma “Lenda Urbana”, é claro. Mas são lendas assim que geram toda uma mitologia em torno de cada temática que a mídia ache interessante explorar. E dando margem à essa “lenda”, a revista MAD publicou uma sátira mostrando o que aconteceria se... Walt Disney visitasse seus estúdios.... HOJE!!!

Essa sátira saiu originalmente na MAD em 1997.... porém, eu li ela recentemente na “MAD ESPECIAL” nº 11 (da Mythos - essa capa aí ao lado) – publicada em 2005, mas que só agora eu fui ler, já que tenho a mania de comprar gibis e empilhar eles pra acabar lendo muitas vezes anos depois (como foi o caso aqui, rs).

A sátira é espetacular (como vocês podem conferir nas imagens da edição original americana postadas aqui abaixo).... e já começa com o próprio Walt Disney sendo descongelado nos dias atuais (no caso em 1997 – época em que a história foi publicada). Assim que volta à vida, Disney é recepcionado pelo próprio presidente da Disney em gestão na época (chamado na sátira de “Michael Asno”). 

O irmão de Disney (Roy) aparece ao fundo do 1º quadro retratado como um “fantoche” que só serve pra emprestar seu SOBRE-nome à empresa e posar pra fotos publicitárias. No mesmo quadro aparecem também alguns personagens Disney bastante envelhecidos e decadentes: usando bengalas e dentaduras.

Reparem também numa curiosa cena onde o Coelho Osvaldo aparece em animação suspensa no canto do quadro.

Ainda na 1º página o presidente da Disney (Asno) leva Walt pra dar uma volta e conhecer os estúdios.... já que Disney “morreu” em 1966 e agora estaria acordando em 1997 (mais de 30 anos depois).
Logo de cara, Walt fica bastante chocado ao ver que sua atriz preferida Julie Andrews (a protagonista de “Mary Poppins” imagem ao lado) famosa por sua pureza e inocência – realçadas também por filmes como: “A Noviça Rebelde”.... agora havia estrelado um filme onde virava um travesti (“Victor ou Victoria”) e ainda aparecia nua. Sem falar em uma outra polêmica produção cujo título tinha as iniciais de um palavrão em inglês (“S.O.B” – sigla que seria equivalente pra nós à “F.D.P” – que eu nem preciso explicar o q significa, né?). Ou seja: filmes que em nada condiziam com a singela imagem de moça recatada que a atriz passava pro público infantil. E as decepções pro pobre Walt estavam apenas começando, rs....

Na página 2.... Walt se depara com a triste realidade de seus estúdios. Filmes ruins e fracassos estrondosos de bilheteria. E pior: Walt percebe que seus estúdios viraram o mais baixo símbolo do consumismo descartável: com personagens sendo usados unicamente pra vender outros produtos (bonecos, lancheiras, camisetas, etc)... sem que a qualidade do produto principal (no caso o desenho animado) tenha a menor importância pro estúdio.

Comenta-se aí nessa página. o fato do fracasso de merchandising que foi o “Corcunda de Notre Dame”.... já que um personagem principal tão feio e coadjuvantes sem o menor carisma: jamais conseguiriam emplacar um sucesso na venda de bonecos e lancheiras. 

O público consumidor desse tipo de produto sempre manteve um padrão estético bastante simples de ser entendido por qualquer especialista (competente) de marketig: pra um boneco vender bem ele tem que ser bonito ou pelo menos agradável aos olhos do público.... não é o caso do “Corcunda de Notre Dame” é claro. Obviamente isso não tinha como dar certo mesmo.

Sei que pode parecer cruel... mas o consumidor é cruel. A beleza física de um personagem de desenho animado e mesmo de um ator ou atriz de carne-e-osso: ainda é o que VENDE. É hipocrisia achar o contrário ou fingir que não é assim que as coisas realmente funcionam. Na área da publicidade/marketing existe um termo que atribuímos a isso: “Star System” (que é um dos princípios da “fabricação” de ídolos e da adoração aos mesmos por parte do consumidor). 

E não adianta: o público quer são bonequinhos bonitinhos e fofinhos... pra dar de presente pra namorada, pro filho, e pra guardar na estante.

Essa passagem da sátira reflete exatamente o que se tornou a Disney.... um gigantesco conglomerado de empresas que vive do merchandising: da venda de bonecos e exposição dos personagens na mídia, ou usando personagens de desenho como escada pras grandes redes de lanchonetes venderem seus hambúrgeres e combos (oferecendo os bonequinhos de “brinde”).

O sonho de Walt Disney.... que produzia desenhos animados repletos de inventividade e emoção (e quem assistiu aquele belíssimo curta de 1932: “Flores e Árvores” sabe muito bem do sentimento que um verdadeiro artista que nem Walt Disney é capaz de passar em sua obra).... Tudo isso se perdeu: em algum lugar no meio de um mar de dinheiro e licenciamentos de bonecos e tranqueiras descartáveis.

A arte, a beleza, o sonho.... nada disso tem mais importância pros executivos engravatados da Disney.

No próximo capítulo desta matéria.... a bizarra e surreal viagem de Walt Disney por seus estúdios continua: mais ácida, mais revoltante, mais grotesca. Pobre Walt... vai desejar nunca ter sido descongelado pra ver o que fizeram com seu sonho, rs. Aguardem....

Fonte: Texto de Leo Radd (colaborador e resenhista do blog Universo Disney).