“Essa história deve ter vindo do espaço sideral e batido na minha cabeça”, comentou Carl Barks em 1981. “Nem imagino como tive a idéia. Mas eu sempre pensava no pobre Tio Patinhas e seus problemas com o dinheiro. E não podia ter sempre os Metralhas tentando roubá-lo.
Devia haver outras ameaças.” (texto extraído de O Melhor da Disney vol. 7, pág.70).
Pensando assim, Barks resolveu utilizar os terremotos como alternativa de ameaça real à resistente Caixa-Forte do Tio Patinhas e seu precioso conteúdo de toneladas e toneladas de dinheiro.
“Os Fabricantes de Terremotos" (W US 13-02) com roteiro e desenhos de Carl Barks foi publicada a primeira vez no Pato Donald #283 e republicadas no Mickey #108, Tio Patinhas #200, Duck Tales #2 e O Melhor da Disney #7 (capa ao lado).
É curioso notar que existem diferenças numa história quando ela é republicada. Elas se diferem na arte dos desenhos, nos textos dos balões e nas onomatopéias. Isso sem falar dos “cortes” que são feitos na história por conveniência editorial, ajustando o número de páginas aos interesses da edição.
Por exemplo: A história que estamos considerando, em seu primeiro quadro na edição OMD vol. 7, traz o Tio Patinhas de casaca vermelha lendo um jornal, e em cima de seu cofre à esquerda, tem 3 livros com os títulos “Petróleo Perfurado”, “Petróleo Jorrando” e “Petróleo Seco.”
Na mesma história, publicada em Álbuns Disney nº 2, essa mesma cena apresenta o Tio Patinhas de casaca azul (eu prefiro a vermelha), e os livros à esquerda estão com os títulos “Livro-Caixa”, “Poços de Petróleo” e “Reservas”. E outras divergências como essas se apresentam por toda a história, tipo o aviso na lateral da Caixa-Forte “Tire a Mão” numa história e “Afaste-se”, na outra.
Superadas essas questões técnicas, podemos apreciar Tio Patinhas em "Fabricantes de Terremotos” por ter um belo roteiro que mexe com a nossa imaginação, pois fala do subterrâneo e das incertezas que afligem o desconhecido mundo debaixo dos nossos pés. Vivemos na superfície, e nela construímos toda a nossa civilização.
Tudo que conhecemos, as nações, suas edificações, estradas, pontes e os meios de produção e transporte, estão na superfície da terra. De acordo com a Wikipédia, “a crosta terrestre é a camada mais externa ou crosta do planeta Terra. É a parte superior da litosfera, com uma espessura variável de 5 a 70 km. A crosta é constituída basicamente por basalto e granito, e fisicamente é menos rígida e mais fria do que o manto e o núcleo da terra.” No imaginário literário muito já se falou do interior da terra, desde Júlio Verne (foto abaixo) em 1864 com a fantástica “Viagem ao Centro da Terra”, até os dias de hoje. Afinal, que seres misteriosos podem ou não haver nas profundezas inexploradas do nosso planeta?
Nas mitologias das culturas antigas, o mundo subterrâneo sempre foi descrito como possível local de habitação de seres inferiores e potencialmente maléficos.
É um clichê conhecido que os seres das profundezas sejam criaturas amorfas ou repugnantes. Mas, não é o que acontece na idéia criativa de Barks, pois, quando Tio Patinhas sente que seu dinheiro pode estar ameaçado pelos terríveis terremotos que ele vê estampado na mídia, resolve construir um túnel espiral em direção às profundezas e junto com Donald e os sobrinhos, acabam encontrando seres vivos dóceis em um mundo iluminado e agradável.
Acontece que os habitantes do subterrâneo inocentemente disputam “cabeçadas” coletivas num torneio de equipes, abalando os pilares de sustentação da crosta, causando assim, o que conhecemos como terremotos.
A história se desenrola de maneira agradável e até mesmo o Donald acaba entrando na competição e dando “cabeçadas” num duelo interessante.
No clímax da história, uma multidão de seres combatem na final de um torneio, o que provoca um mega terremoto em Patópolis, abalando toda a cidade, fazendo vibrar a caixa-forte, rachando suas grossas paredes, rasgando a terra e sugando toda a fortuna do Tio Patinhas por uma fenda, levando seu precioso conteúdo para o interior da Terra.
Que desespero! Tio Patinhas clama por ajuda quando vê que cada “fantastilhão” de patacas suas escorreram pelo buraco, lamentando-se como um velho e pobre pato. Adoro ver o Tio Patinhas em momentos como esse, pois, nessas horas a gente sempre vê e sente o apoio de Donald e sobrinhos tentando consolá-lo e reerguê-lo para a vida. Logo, seu dinheiro volta de maneira impactante para a caixa-forte, pois, os seres das profundezas resolvem devolver todo esse “lixo” para a superfície e ainda tapam o tal buraco, retornando tudo à sua normalidade.
Barks conclui essa deliciosa história com o velho pato conversando com um professor que apresenta ao milionário, explicações científicas, garantindo a estabilidade do solo para o futuro. Tio Patinhas pergunta: - “Quais seriam as causas dos tremores?” E o professor responde: - “O gás acumulado nas fissuras quando a terra se comprime”. Tio Patinhas pisca para os sobrinhos ironizando a intelectualidade teórica, diante da superioridade prática da vida, dizendo: “Ele não esteve lá, parceiros!”
Como são gostosas essas histórias tipo “montanha russa” onde de repente tudo parece estar perdido, e no final tudo dá certo. Não é fácil prender a atenção do leitor em uma história longa de 27 ou 29 páginas. Muitos autores atuais pecam um pouco nesse quesito, o que logicamente não acontece com Carl Barks, que foi especialista nesse tipo de trama. É isso o que acontece quando uma história é muito boa, ela sai publicada inicialmente em um gibi mensal, republicada em um almanaque e talvez até selecionada para publicações especiais. É assim que vejo “Os Fabricantes de Terremotos” - criativa na origem, bem utilizada editorialmente e um verdadeiro tesouro para nós, os fãs e colecionadores. Não tenho esse Pato Donald #283...
... nem o Mickey #108.
Mas, guardo com carinho meu “Álbuns Disney nº 2”, “Tio Patinhas 200” e “O melhor da Disney vol. 7”, e assim, conservo essa preciosa história na coleção, na mente e no coração.
Então já sabem - e espero que isso não aconteça - mas, se a terra tremer levemente, lembrem-se que em algum lugar nas profundezas da crosta terrestre podem estar competindo num “torneio de cabeçadas”, esses seres redondinhos e até simpáticos chamados de “fabricantes de terremotos.” Parabéns ao mestre Barks, e dizemos muito obrigado aonde quer que ele esteja, pois suas histórias são como pérolas no colar de uma rainha: bonitas, preciosas e revestidas de realeza...
Dedico esse texto ao amigo Disney, Matheus Guarany do Edição Extra Blog, abracos, Matheus...)
Fonte: Texto de Paulo Gibi (resenhista e colaborador do Universo Disney) e (Wikipédia, OMD Vol.7, AD 2, Inducks).
Essa história é demais!
ResponderExcluirEu realmente achei interessante o fato de term abordado a questão das divergências gráficas da história publicada décadas atrás e a outra publicada há pouco tempo. São esses detalhes que mudam a cara de uma postagem ou um texto, de chato e comum, à inteligente e detalhado, como o que temos aqui no Universo Disney.
Barks é um gênio, e isso nem se discute, e ele sempre acha um jeito de 'fantasiar com classe'. Quem pensaria em seres que fabricam terremotos por diversão?
Abçs. e obrigado por dedicarem essa bela postagem para mim, Paulo e Ludy, dois dos meus grandes amigos Disney
Matheu$
Amigo Matheus sempre com um comentário inteligente e bacana.
ResponderExcluirE sobre a homenagem é totalmente merecida tu és um daquelas pessoas raras e legais que aparecem em nossas vidas e também com o seu blog o Edição Extra Blog você também é um grande divulgador dos quadrinhos Disney no Brasil. Abração amigo.
Desde que assisti ao episódio de Ducktales baseada nessa história, ela se tornou uma das minhas preferidas do Velho mestres.
ResponderExcluirSempre que ouço falar de terremotos smepre me lembro que pode estar tendo um desses campeonatos em algum lugar do mundo.
Também me lembrou que o Don Rosa já fez uma espécie de continuação pra essa história (foi o don Rosa mesmo ou estou louco?) onde o Donald encontra novamente um desses seres subterrâneos..também foi legal, mas nem chega perto da original.
Olá! Boa noite! Engraçado como a boa arte sempre reaparece por outras mãos - não ela como um todo, mas uma semelhança, sim.
ResponderExcluirTenho uma revista com uma história em que Mickey, Horácio e Pateta tem que enfrentar um ser do espaço que quer sugar toda a força do planeta Terra. E esse ser lembra-me muito esses bichinhos criados por Barks nessa história do Tio Patinhas.
Aliás, eu mesmo tive a sensação de já ter lido essa história do Tio Patinhas ao ler esse post e contemplar as figuras, só não me lembro ao certo disso, mas estou com uma certa sensação de "deja vu".
Abraços. FabianoCaldeira.